William Blake

William Blake, poeta inglês. Imaginação ele tinha; visão ele tinha. Ele as tinha em medida abundante. Nem é preciso dizer. Para ele, a imaginação era a beleza tudo-iluminadora da realidade, e a visão era a realidade tudo-preenchedora da beleza. Para ele, a imaginação era um homem de verdade, e a visão era um homem real e perfeição-inspirador.

Louco – assim pensavam alguns dos seus contemporâneos, e mesmo alguns dos seus amigos. Mas ele não era louco. Infelizmente, a maior parte das pessoas não estava e não está interessada em ver os seus mundos-realidade. A maior parte das pessoas não tem acesso a esses mundos. É necessário um clamor interior; um verdadeiro amor pelo desconhecido é preciso e um coração corajoso é necessário para ir além do mundo-fatos, além do mundo-realidade já visto e alcançado.

Seu poema imortal, “O Tygre”, é um tesouro inestimável da humanidade.

Tygre! Tygre! incendiando reluzente

Nos bosques da noite,

Que olho ou mão imortais

Enquadrariam a tua temível simetria?

Vemos essa energia-ignorância, que ameaça devorar o mundo inteiro, finalmente descobrir sua salvação-transformação na realização do Uno absoluto. Esse absoluto Uno incorpora energia-ignorância, energia-conhecimento e, ao mesmo tempo, muito transcende ambos.

A originalidade devotada da alma foi a dádiva de Blake para a humanidade. O Blake amante das pinturas-arte e amante do progresso-pensamento foi um pungente e incessante rio de criatividade-originalidade.

O seu amigo e discípulo Samuel Palmer o descobriu e facilitou ao mundo que o descobrisse. Blake era um homem sem máscaras: sua meta simples, seu caminho reto, suas palavras poucas. E mais: Blake foi o desafio da humanidade em ir além das conquistas da vida terra-limitada e o desafio da divindade para crescer e brilhar na sempre-transcendente realidade-existência do Além.

Seu barco-vida velejou entre a pureza-essência-alma e a impureza-substância-corpo. Certamente, tal é a experiência com que se depara toda vida humana. Mas chega a hora em que a parte obscura e não divina de nós alegremente e devotadamente se entrega à parcela iluminada e divina. Entrega significa percepção consciente, unicidade inseparável. Pela percepção da sua unicidade inseparável com o divino, o não divino em nós recebe iluminação, satisfação e perfeição.

Na sua vida, Blake foi obscuro; o reconhecimento não estava entre os seus conhecidos. Agora, um século após sua partida do palco-mundo, o mundo descobriu e reconheceu nele um amante-mundo que trouxe a mensagem da transformação – a transformação da tortura-inferno no enlevo-Céu e a transformação do mar-ignorância do corpo no céu-sabedoria da alma.

No dia 28 de novembro, mais de duzentos anos atrás, Blake nasceu. Mas a sua alma ainda aspira, ainda ilumina o mundo e ainda tenta manifestar a divindade que ela incorpora, para o despertar-Terra, iluminação-Terra e preenchimento-Terra. O poeta tem a visão do amanhã; o artista tem a visão do amanhã; o cientista, o cantor e o músico, todos têm a visão do amanhã. Todos os seres humanos que estão despertos e estão mais do que prontos para contribuir com algo próprio, com uma parte de si, ao mundo como um todo são realmente almas abençoadas e tesouros inestimáveis e imortais da Mãe Terra.

 

28 de novembro de 1975

Nações Unidas

Nova Iorque, EUA

 

– Sri Chinmoy

 

Do livro Pensadores-Filósofos do Ocidente editora Agbook

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