Porque Mirabai não pode voltar para sua antiga casa
As cores do Escuro penetraram o corpo de Mira;
todas as outras cores desapareceram.
Amando o Escuro e pouco comendo,
isso são minhas pérolas e turmalinas.
Rosário de meditação e a marca na testa,
tais são os meus adereços e anéís.
Isso é beleza feminina suficiente para mim;
aprendi isso com meu professor.
Aprovada ou reprovada, eu louvo a Energia da Montanha
dia e noite.
Tomo o caminho que os seres humanos extasiados
tomaram por séculos.
Não roubo dinheiro e não agrido ninguém;
do que me acusarão?
Senti o balanço dos ombros do elefante;
e agora você quer que me sente num asno?
tente agir com seriedade.
– Mirabai*
(*Mirabai – Ecstatic Poems, versions by Robert Bly e Jane Hirshfield)
O colar
Ó amiga, sento-me só enquanto o mundo dorme.
No palácio que abrigou o prazer do amor dorme a abandonada.
Ela que uma vez juntou um colar de pérolas hoje tece lágrimas.
Ele me deixou. A noite passa enquanto eu conto estrelas.
Quando chegará a Hora?
Essa tristeza precisa acabar. Mira diz:
“Sustentador de Montanhas, volte.”
– Mirabai*
(*Mirabai – Ecstatic Poems, versions by Robert Bly e Jane Hirshfield)
A flecha
Meu professor atirou uma flecha
Que me trespassou.
Agora a sua ausência fere o meu coração
E meu corpo inquieto.
Minha mente não vaga mais – o amor a mantém coesa.
Agora estou acorrentada.
Quem conhece a minha dor, senão ele?
Um choro indefeso, interminável.
Amigas, digam-me – o que mais posso fazer?
Mira diz ao seu Senhor: conceda-me a sua presença ou a morte.
– Mirabai*
(*Mirabai – Ecstatic Poems, versions by Robert Bly e Jane Hirshfield)
Não me proíba, mãe
Não me proíba, mãe; estou indo visitar homens santos.
Conheço um com o rosto negro; eu sou dele, o resto é nada.
Onde eu vivo, todos dormem; meus olhos abertos noite adentro.
Se o mundo não admira o Senhor, ele é louco; que sabedoria possui o mundo?
O que estou dizendo? O Senhor está dentro de mim; ao invés do sono.
Algumas lagoas têm água durante quatro meses do ano; mas eu fico longe delas.
A água de Hari verte; isso é o que basta para a minha sede.
Você diz que ele é negro; eu digo belo. Estou indo ver o seu rosto.
A dor de Mira vem da separação; o que ela quiser fazer, ela fará.
– Mirabai*
(*Mirabai – Ecstatic Poems, versions by Robert Bly e Jane Hirshfield)
Mira só quer se unir aos elefantes e papagaios
Ó Amado, foi prometido que todos que disserem o Nome serão salvos.
Pelo seu poder, as rochas perdem a dureza,
Derretendo como gelo virando água; a terra fica macia, cedendo.
Eu também sinto essa atração.
Não guardei mérito, sei bem o peso dos meus pecados.
Uma cortesã ensinou o papagaio a repetir o Seu nome
E foi levada ao céu de Vishnu.
Um elefante que se banhava balbuciou o Seu nome e você voou para a terra
Das costas de Garuda, correndo para ajudá-lo –
Abriram-se as mandíbulas do crocodilo.
Libertou-se também aquele elefante do renascimento; chega de úteros animais para ele.
Ajamil deu ao seu filho o Seu nome, chamando-o no leito de morte.
Você respondeu. O medo da morte desapareceu.
Todos conhecem essas histórias,
E você sabe quais seres lhe deram seus corações por completo.
Sua serva Mira faz uma pergunta:
Por que você não me salva?
– Mirabai*
(*Mirabai – Ecstatic Poems, versions by Robert Bly e Jane Hirshfield)
É tudo mentira minha
Em todas as minhas vidas você esteve comigo; lembro disso durante o dia e durante a noite.
Quando você some da minha vista, fico inquieta durante o dia e durante a noite, ardendo.
Subo as colinas; busco sinais do seu retorno; meus olhos inchados de lágrimas.
O oceano da vida – isso não é real; laços de família, obrigações mundadas – isso não é real.
É a sua beleza o que me deixa embriagada.
O Senhor da Mira é a Grande Serpente Negra. Esse amor brota do solo do coração.
– Mirabai*
(*Mirabai – Ecstatic Poems, versions by Robert Bly e Jane Hirshfield)
Mira, a abelha
Ó minhas amigas,
O que poderiam me ensiar sobre o Amor,
Cujos caminhos são repletos de estranheza?
Quando oferece ao Grandioso o seu amor,
Ao primeiro passo seu corpo é esmagado.
Esteja pronta para oferecer sua cabeça como assento.
Esteja pronta para orbitar sua lamparina como uma mariposa cedendo à luz,
Viver como o cervo correndo em direção ao caçador,
Como o perdiz que engole brasas por amor à lua,
Como o peixe que afastado do mar morre feliz.
Tal como a abelha presa para sempre no fechar da doce flor,
Mira ofereceu-se ao seu Senhor.
Ela diz: o Lótus solitário a engolirá viva.
– Mirabai*
(*Mirabai – Ecstatic Poems, versions by Robert Bly e Jane Hirshfield)